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A poesia de Cecilia Meiriles Gomes, Ana Maria B. R. L.

Abstract

Iniciamos o primeiro capltulo deste trabalho justificando a necessidade de nos referirmos a alguns dados biograficos para chegarmos a tuna melhor compreens ão da personalidade e da visão do mundo do nosso poeta. Tres factores são sumamente importantes: uma infa'ncia solitSria, o conhecimento do folclore luso-brasileiro e a precoce "intimidade com a morte". Discutimos tambem a influencia dos ideals simbolistas na obra de Cecilia Meireles, desde a marcada caracteristica de trabalhos de escola dos seus primeiros livros a individualizacão do lexico e dos processos simbolistas que vinham sendo absorvidos pela poesia contemporãnea universal. Nunca completamente integrada no Modernismo brasileiro, Cecilia negou sua adesão a fase inicial do mesmo mdvimento, devido a sentir mais afinidades com o grupo espiritualista de Festa que combatia as tendSncias inconoclastas do Modernismo. Frente a obra poetica, analisamos a posicão da autora em relacão a sua filosofia de vida e tentamos sistematizar seus temas ou complexos tematicos, que sfifo uma slntese do pensamento tradicional com a problematica contemporflnea. Muitos temas são expressos na transfiguracão simbolica dos elementos naturais. A natureza Surn leit-motiv. O contacto do homem com a natureza manifesta-se num ambiente optimista, mas o pantelsmo não soluciona nem satisfaz a aspiragão ascetica do homem. O tema do homem e seu destino, ligado ao complexo vida-tempo-morte, e constante. O subtema do amor apresenta urn aspecto de intelectualizacão semelhante ao pensamento expresso por Antonio Machado: o homem, devido aos seus limites no espago e no tempo, não tern possibilidades de amar outro ser. Limita-se a amar o amor. O tempo, como tema, apresenta aspectos de tratamento barroco: uma conscigncia aguda de transitoriedade que escolhe a atitude quevedesca frente ao circunstancial, sempre na procura de valores absolutos. Subjugado ao tenia do tempo surge o complexo espelho-face-retrato que traduz a preocupacSfo ,contemporcfnea sobre a unidade e a unicidade do "ego" atraves dos varios estãgios da vida individual. O tema da brevidade da vida e expressado especialmente pelo slmbolo da rosa, cuja beleza transit6ria s6 pode ser perpetuada pela memoria. 0 tema do sonho versus realidade e tratado de maneira nitidamente barroca. Deus, como chave do misterio existencial, e sempre procurado e interrogado mas não chega a ser tema exclusivo. O mar e tema proeminente na poesia de Cecilia Meireles. Este tema e explorado numa escala simbfilica que conduz sempre a depuracSto dos motivos intlteis e & procura do absolute A noite surge como integracSfo no absolute e desprendimento da condicão humana. Quanto a analise estilistica, pomos em destaque o simbolo em seus aspectos temStico e tecnico, apontando '. os recursos que contribuem para o sucesso de algiim dos slmbolos. Alem do simbolo, referimo-nos as caracterlsticas dos outros procedimentos metaf6ricos, imagens visionarias e visos, que, em Cecilia Meireles, apresentam sempre uma reminiscencia logica nas suas associacoes, tendo, por isso, nuita afinidade com a metafora tradicional. No capitulo IV apontamos outros recursos estillsticos muito frequentes na obra que estudamos como a sobreposicão temporal, especialmente a anticipacão, a sinestesia, que se manifesta numa tentativa de slntese preceptiva fazendo corresponder sons e formas, sons e cores, sons e tacto, ou materializando os sons e dando significado simbSlico as cores. Como processos geradores de ritmo observarnos as reiteracães de som, de imagem,de significado, que criam um ritmo emotivo mais que musical, no sentido restricto do termo. São tambem de notar a repeticão anaforica, a correlacão e o paralelismo tradicional. As caracterlsticas individualistas da linguagem poetica de Cecilia Meireles são acentuadas pelo uso de adjectivos abstractos, de substantivos de carScter pouco material e de verbos em sucessoes que desenvolvem um dinamismo ora ascendente ora descendente. No ultimo capitulo tentamos situar o Romanceiro da Inconfidgncia na evolucão das criacoes epicas do Modernismo. Tracamos a afiliacão do Romanceiro nas tradicoes hispãnica do romance e folclorica da sociedade brasileira. Referimo-nos ao abandono das tradigftes da epopeia greco-latina e camoniana, devido as novas filosofias do humano e do her6ico, a aceitacão do prosaico como elemento artistico e a despreocupacão pela dif erenciagSto entre os generos litergrios que se observa na literatura contemporSnea. Contra o panorama das tentativas epicas modernistas, mais ou menos a volta de temas de viagens marltimas ou de exploracSto do interior, o Romanceiro canta a essSncia da nacionalidade ou seja a consciencia de se ser brasileiro, desenhando a evolucSto do sentimento de nacionalidade desde as suas primeiras manifestacoes. Por isso o consideramos a tentativa epica mas adequada e mais intrinsecamente brasileira da sua epoca.

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